Joaquim mora em uma pacata cidade no interior do mundo. Tudo bem, não tão pacata assim. Em todo o ano passado a polícia registrou 13 assassinatos, 28 assaltos e 15 mortes por motivos desconhecidos. Entidades da cidade dizem que esse número vai aumentar, mas Joaquim não quer nem saber disso. Possivelmente, nem sabe dessas estatísticas sobre sua cidade.
A casa de Joaquim é meio estranha. Parece que não é limpa há meses. Tem dois quartos, um dele e outro que era pra ser de hóspedes, mas funciona com uma espécie de depósito. Na cozinha não há quase nada. Uma geladeira velha praticamente vazia, uma pia quebrada na ponta com uma torneira pingando, uma mesa no centro com alguns sacos de supermercados rasgados, caixas de pizza e algumas latas já enferrujando. Na sala há um sofá velho com uns buracos que as duas almofadas se esforçam para esconde-los. Na mesinha de centro, mais papel de bombom, caixas de cereais e de leite. No entanto, há uma televisão nova que foi ganha num bingo durante um festejo da igreja há muito tempo, mas que quase nunca foi usada.
Joaquim não fica muito tempo em casa. Passa a maior parte do dia sentado no quintal em frente sua casa. Como o muro é baixo, ele pode ver as pessoas passando e elas o vêem sentado em uma cadeira, com barba grande, roupas rasgadas, pele oleosa, chinelo em um pé somente e uma latinha de cerveja na mão. No quintal não há flores, ou rosas, ou mesmo grama. No lugar delas há latas e garrafas de cerveja e cachaça.
As pessoas vão e vem, mas nenhuma fala com ele. Ninguém estende a mão, grita seu nome ou mesmo dá um "oi". Ninguém o conhece. Ele não conhece ninguém. Não tem amigos, colegas ou família. Vive sozinho.
Ao chegar da, esperada, noite, espera não haver mais ninguém na rua. Vai para o quarto, deita-se na cama - única parte limpa da casa - , puxa o único retrato da casa, que está em baixo do travesseiro vizinho ao seu, olha profundamente para a mulher da foto e diz:
- Espero encontrar-te, para a vida eterna, hoje.
5 comentários:
Triste, tristeza que chega a ficar palpável...
Que o Joaquim encontre o que procura sem precisar partir para a vida eterna...
Reflexivo o texto.
Beijo
Taty
Que lindo João.
Lindo e triste...
Por que é sempre assim?
E a propósito do seu comentário, meu pai leu...
Me ligou chorando para agradecer...
Não escrevi com a intenção que ele lesse, pois não fazia idéia que ele soubesse que eu tinha um blog.
Coisas da vida...
Obrigado!!
Boa semana.
Vã
Hoje resolvi visitar alguns blogs e acabei te descobrindo. Gostei muito do que vi e voltarei outras vezes sem a menor dúvida. Deixo também registrado que ter sua visita em minha estação será um enorme prazer.
Permita-me deixar algumas folhas secas pelo teu chão e muito breve estarei passeando em tuas letras novamente.
Simplesmente Outono.
Bonito, intenso, e dorido.
Simplesmente indescritível!
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